Releituras de obras de arte: Tarsila do Amaral e Frida Kahlo
Por Professora Priscila Marim dos Santos
Introdução
Os trabalhos aqui apresentados partem de releituras de obras de arte e foram realizados por alunos do CIEJA Parelheiros (Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos).
Eles têm como referência duas artistas de grande relevância no cenário cultural da modernidade: Tarsila do Amaral, com as obras “Paisagem com Touro” (1925) e “Operários” (1933) e Frida Kahlo, com a obra “Hospital Henry Ford” (1934). A ação poética utilizou técnicas de pintura, recorte e colagem de jornais, de papéis Color Set preto e de figuras de revistas, raspagem de giz de cera e fios de lã vermelha.
No ano de 2015, desenvolvemos em nossa escola o Projeto Especial de Ação (PEA) “Construindo a igualdade de gênero da Educação de Jovens e Adultos: protagonismo, empoderamento e emancipação”. A escolha destas duas artistas, que deixaram suas marcas de forma tão sensível e intensa, imprimindo e eternizando realidades distintas, justifica-se a partir das discussões realizadas com nossos alunos e alunas ao longo daquele ano letivo.
Esta é, portanto, uma pequena mostra do trabalho colaborativo que é realizado no CIEJA.
Agradecemos a oportunidade de expor nosso trabalho a toda comunidade no Terminal Varginha!
Processo criativo
Tarsila do Amaral
Na primeira aula sobre a Tarsila do Amaral, foi entregue aos alunos um texto que falava sobre a vida e obra da artista, foi realizada uma leitura compartilhada em que cada aluno voluntariamente leu um parágrafo. Após a leitura a professora contextualizou o texto para os alunos, mostrando as obras: Abaporu, 1928 – uma estranha figura saída de sua imaginação; Operários, 1933 – interesse em retratar os acontecimentos sociais e mostrar pessoas vindas de todos os pontos do Brasil para São Paulo e Rio de Janeiro, com o objetivo de trabalhar nas fábricas, que começavam a surgir na época; Paisagem com Touro, 1925 – fez das cores da paisagem brasileira a marca de suas obras, dotada de temas tropicais e brasileiros uma representação da exuberância da fauna e da flora.
Paisagem com touro, 1935
Após a apresentação e discussões sobre a vida e as obras da artista, foi iniciado o primeiro trabalho de releitura com as turmas. Foi escolhida pela professora a obra "Paisagem com Touro", para a realização de colagem de papéis – branco, preto e jornal.
Os materiais usados foram o caderno de desenho, 1/6 de papel Color Set preto, folhas de jornal, cola branca, lápis de cor, canetinha, folha de sulfite branca e o desenho impresso de um touro.
A execução foi iniciada com a folha de jornal na posição vertical, somente as páginas com texto de letras pequenas, não as manchetes ou propagandas onde o fundo tem outras cores. Desenhou-se nelas letras “D” de barriga pra cima, com o jornal na vertical, até o limite do texto da folha. Fez-se cerca de 6 a 8 desenhos desses. Após o desenho recortou-se e montou-se as letras, na horizontal, no caderno de desenho, de forma que fossem colocadas para construir “montanhas” , colou-se uma letra atrás da outra de maneira que as pontas das laterais não apareceram. Após a montagem das montanhas, foram construídas até três casas com recortes em retângulos ou quadrados em folha de sulfite branca. Os telhados, janelas, troncos e os arbustos desenhados e recortados em papel Color Set preto. Após todos os recortes colou-se de maneira cuidadosa e harmoniosa. As copas das árvores foram recortadas no jornal, mas na posição horizontal para que houvesse um belo efeito visual, que contrastou com as “montanhas”. O aluno pode pintar o desenho do touro impresso da cor de sua escolha e colá-lo onde quis. Por último, o acabamento no topo das montanhas, casas e copas foi feito com canetinha, e nos arbustos com lápis de cor branco.
Releitura da obra Paisagem com Touro, 1935
Releitura da obra Paisagem com Touro, 1935
Todo mês de maio o CIEJA Parelheiros realiza o "Fórum Trabalho e Qualidade de Vida". No ano de 2015, durante essa semana foi apresentado aos alunos o filme “Lixo Extraordinário”, um documentário anglo-brasileiro lançado em 2010.
O documentário relata o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz com catadores de material reciclável em um dos maiores aterros do mundo, localizado no Jardim Gramacho, bairro periférico de Duque de Caxias – RJ.
Após essa apresentação a professora propôs aos alunos uma releitura da obra "Operários" de 1933. Como essa obra já havia sido discutidas com os alunos, tendo como o principal viés as condições precárias que aqueles trabalhadores de fábricas tinham, fizemos uma relação com os catadores de material reciclável e partimos para uma releitura da obra de Tarsila do Amaral mas com técnicas de Vik Muniz. Os materiais usados foram uma cópia impressa da obra "Operários", giz de cera, lápis de cor e cola branca.
O início do trabalho se deu a partir do desenho de cada rosto. Os alunos tinham de desenhar os olhos, sobrancelhas, nariz e boca em cada um daqueles rosto que se encontrava na folha impressa. A pintura da cor da pele poderia ser a mais variada possível, como azul, vermelho ou verde. Houve questionamentos à professora sobre a inexistência de pessoas azuis, que respondeu que o trabalho era uma releitura e não uma cópia. A única coisa que deveria se manter semelhante ao original era a fisionomia de pessoas tristes e exausta ao excesso de trabalho. A fábrica e as chaminés foram pintadas com lápis de cor. Após esse primeiro processo concluído, começou-se a colagem com o giz de cera raspado nos cabelos e boinas de cada um daqueles trabalhadores. Os alunos puderam usar as cores que quisessem e também misturá-las a seu gosto.
Operários, 1933
Tarsila do Amaral
Releitura da obra Operários, 1933
Releitura da obra Operários, 1933
Aluna Helena Perez - módulo 3A
Releitura da obra Operários, 1933
Releitura da obra Operários, 1933
Aluno Expedito - módulo 4I
Releitura da obra Operários, 1933
Frida Kahlo
No segundo semestre, a artista escolhida pela professora foi Frida Kahlo, patriota declarada, comunista e revolucionária teve uma vida de sofrimentos e superações que refletidos em sua obra a tornaram uma das maiores pintoras do século, uma das personagens mais marcantes da história do México.
Como o Projeto Especial de Ação (PEA), da unidade escolar teve como seu fio condutor a questão de gênero, a artista Frida Kahlo foi o ponto mais profundo a ser discutido dentro da disciplina de Artes, devido às suas escolhas em relação às vestimentas enquanto adolescente, como por ser bissexual, as traições tanto de seu grande e venerado amor Diego Rivera como também traições de sua parte. Todas essas informações e estudos mais profundos sobre a biografia dessa grande artista mexicana levou à uma discussão muito profunda aos alunos do respeito a questão de gênero.
A aula deu início com uma dinâmica em que a sala era dividida em quatro grupos e para cada grupo era apresentada uma dessas obras "Hospital Henry Ford", 1932; "A Coluna Partida", 1944; "Sem Esperança", 1945 e "O Veado Ferido", 1946. As pessoas do grupo tinham que falar uma única palavra que achava que poderia representar a imagem. No final todos haviam visto as obras e ficaram chocados. Um aluno relatou que aquilo tudo era um”show de horror”. Após essa dinâmica a professora entregou um texto sobre a vida da artista. Foi realizada uma leitura compartilhada e durante o processo da leitura e das discussões a cada parágrafos os alunos foram entendendo e discutindo entre eles o porquê das obras tão chocantes. A grande maioria dos alunos entenderam por si próprios que a artista representava em cada um daqueles quadros o sofrimento que passou em sua vida. Eles ficaram tão entusiasmados que um aluno não acompanhava a leitura coletiva, lia muito mais rápido pra saber o final. Foi maravilhoso ver essas expectativas tanto nos gestos quanto nos comentários de cada um ali presente.
Hospital Henry Ford, 1932
A Coluna Partida, 1944
Sem Esperança, 1945
O Veado Ferido, 1946
A professora propôs aos alunos uma releitura da obra "Hospital Henry Ford", 1932. O material utilizado foi o caderno de desenho, 1/6 de papel Color Set de variadas cores, tesoura, canetinha, revista pra recorte, cola branca e lã,barbante ou fita acetinada vermelha.
Na execução cada aluno colocou seu nome no papel Color Set com canetinha, e colou-o no centro da folha do caderno de desenho, preferencialmente na posição horizontal. Após a colagem ele tinha que recortar 6 figuras das revistas que lhe representassem momentos maravilhosos que aconteceram em sua vida. Pensamento contrário a obra de Frida que são objetos que representaram o sofrimento que passou no segundo aborto. Após o recorte das figuras o aluno tinha que ligar seu nome a imagem com um pedaço de lã, barbante ou fita acetinada. Todos esses trabalhos perduraram por todo o ano de 2015, foram desenvolvidos nas salas de aula com os alunos uma vez por mês e, conforme já informado, ficaram em seus cadernos de desenho.
Releitura da obra Hospital Henry Ford, 1932
Aluna Amanda Alves
Exposição das Obras
No mês de novembro na unidade CIEJA Parelheiros houve a mostra cultural. A princípio, a professora pensou em tirar uma cópia colorida dos trabalhos escolhidos, tendo como critério de escolha a elaboração, montagem e a criatividade. Seria colocado um pedaço de papelão atrás de cada um para dar sustentação e colocados em exposição na Praça dos Trabalhadores, onde seriam pendurados nos galhos das árvores, no percurso até a entrada do CIEJA. Foi discutido com os professores, no horário coletivo (PEA), se seria possível. O grupo de professores até gostou da ideia, mas o professor Ronaldo Moura deu a sugestão de expor os trabalhos no Terminal Varginha. O grupo de professores, a coordenadora pedagógica Keila Carvalho, a assistente de coordenador geral Rosemeire Malaquias e a Coordenadora Geral Elizabete Fekete aprovaram a ideia. Entrou-se em contato com a SP Trans e com a Sosicam para pedirem a autorização e a exposição foi gentilmente autorizada.
A professora de arte Priscila Marim fez a seleção dos trabalhos dos módulos 3 e 4 (Ensino Fundamental II) de toda a escola, totalizando 48 trabalhos. Foram tiradas cópias em papel fotográfico e elaboradas legendas em português e inglês com dados de nome, idade, profissão e alguma informação que se achava que seria importante as pessoas saberem. Foram colados em papel cartão amarelo e laranja, intercalando as cores para um melhor efeito visual.
Exposição no Terminal Varginha
Professora Priscila
Exposição no Terminal Varginha
Professores
Exposição no Terminal Varginha
Agradecimentos
Dedico esse trabalho aos alunos do CIEJA Parelheiros de 2015, pois só foi possível chegar onde chegamos (Exposição no Terminal Varginha) com a participação, empenho e confiança de cada um de vocês durante as aulas de artes.
Agradeço ao grupo de professores e gestores por serem tão comprometidos com a educação e acreditar que podemos ir tão longe se acreditarmos que realmente é possível, em especial:
Elizabete Leonide Fekete
Rosimeire Malaquias de Castro
Keila Cristina Rocha Carvalho
Agatha Rodrigues da Silva
Sérgio Massaaki Imamura
Célia de Oliveira Nunes Santos
Ronaldo Aparecido Moura
Danielle Canuto Silva
André Luiz de Souza Rastini
Rodrigo Garcia Lopes Pupo Oliveira
Bibliografia:
AZEVEDO, Heloiza de Aquino. Tarsila do Amaral. A primeira dama da arte brasileira. 4º ed. Campinas: Árvore do Saber, 2005.
CUNHA, Sérgio. Arte, educação e projetos. Tarsila do Amaral para crianças e educadores. 3º ed. Campinas: Árvore do Saber, 2005.
JAMIS, Rauda. Frida Kahlo. 3ºed. São Paulo: Martins Fontes – selo Martins, 2015.
RAFFA, Ivete. Fazendo Arte com os Mestres. São Paulo: Editora Escolar, 2006.
VIK. Organização de Leonel Kaz e Nigge Loddi. Texto de Paulo Herkenhoff. Rio de Janeiro: Aprazível edições, 2009.
https://www.flickr.com/photos/maripadoan/4521847033
Publicado por Profª Agatha R. Silva (10/05/2016, revisto em 11/05/2016)
